Crônica - de Júlia Silva


Ando até que rápido, descendo as escadas, parando um pouco apenas por no final da escada estar um pai ajustando o patins da filha. Isso me trás tantas coisas a mente, que parece que o tempo passa em câmera lenta, só para eu poder absorver todas e não me importar com o que acontece ao redor. 
Lembro de como meu pai era. De quando eu aprendi a andar de bicicleta e ele estava lá, eu nem achava isso primordial eu só queria provar que conseguia e queria que ele sentisse orgulho de mim. E eu era tão pequena, e a bicicleta nem era minha, nunca tive uma bicicleta só minha. E eu penso no agora que nós nem conversamos, que tudo parece ter passado tão rápido, meu pai não sabe o que eu sou só sabe o que eu fui e deixei de ser. Lembro da minha prima que tinha um patins igualzinho aquele, será que eles nunca mudam os modelos ? E ela me ensinava a andar algumas vezes, mas eu nunca aprendia. Posso até sentir o desequilíbrio novamente, o jeito engraçado porém desesperador de se ter rodinhas no pés, parecia tão fácil ! Eu fiquei com a bicicleta e ela com os patins, e nós também nos afastamos e os encontros se tornaram raros, reduzidos a almoços de domingo onde só nos cumprimentamos quando chegamos e temos contato novamente na hora de ir. Vi como o dia estava bonito ótimo para estar fora de casa, é tão difícil eu sair de casa quando consigo parece que o tempo quer que eu nunca volte. 
Agora eu fico pensando na menina e seu pai. Será que ela teve que insistir muito para andar de patins ? Ele faz as coisas espontaneamente, por que quer mesmo, ou por que se sente obrigado ? E os protetores de joelho ? Será que foi o pai que pediu para ela colocar ? Ou talvez a mãe ? Ou ela mesma sabia que poderia se machucar e pôs sem ninguém pedir ? Como ela vai crescer e como seu pai vai lidar com isso ? Sabe querer ir a festas e voltar tarde, ter aquelas típicas amizades de desconfiar. Ele vai saber lidar com ela e todas as coisas que a envolvem ? Pensando que até ontem ela era uma garotinha que precisava de ajuda para ajustar o patins cor de rosa. Será que esse dia vai ficar marcado para eles ? Ou será mais um dia que passou, num piscar de olhos, em sopro de vida que se acaba e se reinicia ?

Ou só sou eu o tempo todo ? É só a minha mente que está dramatizando demais uma cena tão simples : um pai ajustando o patins da filha, ela sorrindo pra ele agradecida. O tempo ao meu redor volta ao normal, e eu entendo isso ao ouvir a voz de outras crianças brincando. Vejo como tudo passa rápido, enquanto caminho mais devagar, as pequenas coisas deixando marcas em nós, que não sabemos o por que de tão inexplicáveis. 

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